Fazemos isso lembrando
que Birri sempre foi "linha e agulha" na costura do rico tecido
audiovisual latinoamericano. Seu papel inicial de mestre e formador
de uma geração, na efêmera e eterna Escola de Cine
de Santa Fé - Argentina, no fim dos anos 1950, espalhou um rastro
de energia criativa que nunca mais se apagou, entre nossos cineastas.
Como membro fundador
do Comitê de Cineastas da América Latina teve sempre papel
fundamental na manutenção dos laços expressivos
entre nossas cinematografias e consolidou essa função
como o criador e primeiro diretor geral da EICTV - Escuela Internacional
de Cine y TV de San Antonio de los Baños - Cuba. A Escuela de
Três Mundos, como preferia chama-la. Centro de formação
para realizadores de América Latina, Ásia e África.
A EICTV foi inaugurada em 15 de dezembro de 1986 como a iniciativa mais
vibrante da Fundación del Nuevo Cine Latinoamericano, presidida
por Gabriel Garcia Márquez e de cujo Conselho Fernando Birri
faz parte.
A visão que
Birri tem do papel do cinema e das artes nestes territórios,
desde antes e ainda, ocupados pela expressão audiovisual de outros
continentes, está expressa em um texto de 1962, que ainda ressoa
vivo e fresco em nossos desejos de comunicação e que ganha
um sentido mais forte quando recai sobre a produção de
não ficção.
...
Cinema e subdesenvolvimento
Fernando Birri - 1962
De que cinema necessita
a Argentina ?
De que cinema necessitam os povos subdesenvolvidos da América
Latina ?
De um cinema que
os desenvolva.
Um cinema que lhes dê consciência, tomada de consciência;
Que os esclareça;
Que fortaleça a consciência revolucionária daqueles
que a tem;
Que lhes dê fervor;
Que inquiete, preocupe, assuste, debilite aos que tem "má
consciência", consciência reacionária;
Que defina perfis nacionais, latino-americanos;
Que seja autêntico;
Que seja antioligárquico e antiburguês na ordem nacional
e
anticolonial e antiimperialista na ordem internacional;
Que seja pró povo e contra anti-povo;
Que ajude a emergir do subdesenvolvimento ao desenvolvimento;
Do sub-estômago ao estômago;
Da sub-cultura à cultura;
Da sub-felicidade à felicidade;
Da sub-vida à vida
In Hojas de cine
I. México, DF, Secretaria de Educación Pública,
Fundación Mexicana de Cineastas, Universidad Autónoma
Metropolitana, 1988.
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