"o cinema-verdade não é a verdade no cinema, é
a verdade do cinema"
COLLEN, Jean-Paul. Entrevista: Jean Rouch, 54 anos sem tripé.
in Cadernos de Antropologia e Imagem vol. 1. Rio de Janeiro, UERJ, 1995.
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Engenheiro e doutor
em letras, explorador e etnógrafo, Jean Rouch conhecia, desde menino,
a obra de Flaherty e Murnau. Ligado ao Museu do Homem - Paris - centro
de estudos de antropologia - começou a registrar suas observações
etnográficas em filme, ainda nos anos 40, durante viagens à
África.
Em 1960 realiza,
junto com sociólogo Edgar Morin, o filme Crônica de um
verão (Chronique d' un été), apoiado em novos recursos
técnicos como câmera leve, na mão e gravador de
som direto (Nagra).
Esse filme, uma
investigação sobre o comportamento e as idéias
dos moradores de Paris, inaugura um método de trabalho de documentário
que ficou conhecido como cinema verdade (cinéma-verité).
O termo não
era novo, pois "kino pravda", título de um dos manifestos
de Dziga Vertov, é exatamente cinema verdade. Rouch e Morin tem
o mérito de sintetizar, nesse filme, influências de vários
realizadores e propostas cinematográficas como Vertov, Flaherty,
Ivens, o neo-realismo italiano e algumas idéias da também
nascente Nouvelle Vague.
Rouch também
investiga possibilidades além das fronteiras do documentário,
misturando procedimentos e influências da ficção
no desenvolvimento de suas obras. Chama atenção a maneira
como investiga a influência cultural do cinema no filme Eu, um
negro (Moi, un noir). Os personagens, reais, "fazem de conta"
que são atores conhecidos do cinema americano. Pela forma de
apresentar esses mitos ficamos sabendo muito de seus sonhos, de sua
visão de mundo e da sua cultura.
É muito importante
observar que Jean Rouch usou o cinema como um registro científico
precioso sem nunca abandonar as possibilidades poéticas da linguagem
cinematográfica. Ao mesmo tempo o cinema foi para ele um instrumento
de investigação e registro e uma linguagem aberta à
experimentação. Foi esse recurso, nunca negado à
poesia, que tornou sua obra tão universal e abrangente no tempo.
Ainda que sempre tivesse sua câmera focada em culturas tão
particulares.
A obra e as idéias
de Jean Rouch tem fortes vínculos com o documentário brasileiro
ligado ao Cinema Novo (anos 60), pois vários jovens brasileiros
fizeram cursos de documentário no Museu do Homem.
O filme Aruanda
(1960) realizado por Linduarte Noronha é produto de um extenso
vínculo do Departamento de Antropologia da Universidade Federal
da Paraíba com o Museu do Homem. Esse filme é considerado
o marco inicial do documentário no Cinema Novo.
Filmografia principal::
1949 LES MAGICIENS
NOIRS
1950 CIMITIÈRES DANS LA FALAISES
1955 LES FILS DE L'EAU
MOI, UM NOIR
1958 CHRONIQUE D'UN ÉTÉ
1960 LA FLEUR DE L'AGE OU LES ADOLESCENTES
1961 LA CHASSE AU LION À L'ARC
1965 SIX IN PARIS / PARIS VU PAR
- Direção/roteiro
Jean Rouch dirigiu o episódio "Gare du Nord" (os demais:
"Saint-Germain-des-Pres" - Jean Douchet; "La Muette"
- Claude Chabrol; "Rue Saint-Denis" - Jean-Daniel Pollet;
"Place de l'Etoile" - Eric Rohmer; "Montparnasse-Levallois"
- Jean-Luc Godard.
1970 PETIT À PETIT
1971 1977 COCORICO MONSIEUR POULET
1979 FUNERAILLES À BONGO: LE VIEUX ANAI
1984 DIONYSOS
1987 BRISE-GLACE
1987 ENIGMA
1988 BOULEVARDS D'AFRIQUE
1989 FOLIE ORDINAIRE D'UNE FILLE DE CHAM
1990 CANTATE POUR DEUX GÉNÉRAUX
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