Santiago Alvarez


"Não creio no cinema pré-concebido. Não creio no cinema para a posteridade.
A natureza social do cinema demanda uma maior responsabilidade por parte do cineasta.
É urgência do Terceiro Mundo. Essa impaciência criadora do artista, produzirá a arte dessa época,
a arte da vida de dois terços da população mundial".

Santiago Alvarez in Cine Cubano, n. 54-55, 1969


Santiago Alvarez nasceu no dia 8 de março de 1919 em Habana Vieja, Cuba. Estudou medicina durante dois anos e nunca terminou. Em 1938 foi para os EUA tentar fortuna e lá teve a vivência que o levaria para o cinema. Segundo ele: "foi uma grande lição e experiência de vida. Pude ver o que significava de verdade os EUA para mim, para o povo cubano e para o povo americano. Depois que voltei dos EUA, tornei-me comunista".

A radicalização política de Santiago Alvarez foi o maior saldo de sua odisséia norte-americana. Ele mesmo chegaria a afirmar que se fez marxista-leninista nos EUA por volta de 1940.

Após seu regresso a Cuba, matriculou-se no curso livre de Filosofia da Faculdade de Filosofia e Letras. Em seguida, junto aos companheiros Alfredo Guevara, Júlio Garcia Espinosa, Álvaro Alonso, Leo Brouwer, entre outros, fundou a Sociedade Cultural Nosso Tempo. Uma sociedade que, sem exagero, construiu o alicerce da política cultural da Revolução de 1959.

Santiago Alvarez estreou no cinema aos 40 anos de idade. Sua obra fílmica destaca-se de pronto por sua amplitude. Foram cerca de 600 cinejornais, 96 filmes e 3 vídeos, composto primordialmente de documentários mas também de títulos de ficção (Os refugiados na Cova do Morto) e de animação (Os Dragões de Ha-Long!).

Na obra de Santiago Alvarez é possível reconhecer, entre outros, o compromisso cinejornalístico revolucionário de Jorís Ivens e Roman Karmen, a ênfase na montagem e o recurso a intertítulos de Vertov, a combinação das mais variadas técnicas e materiais imagéticos de Cris Marker, a recusa à narração off e o experimentalismo sonoro de Peleshian. O estilo de Santiago Alvarez combina isso tudo e algo mais.

Na esfera visual, ele recorre sem qualquer hierarquização e pudor a tudo que tem a mão para ordenar seu discurso fílmico. A mesma estratégia se aplica a construção sonora e musical de seus filmes. No mais das vezes, os filmes de Santiago Alvarez articulam em sua banda musical trilhas especialmente compostas, música clássica, pop, canções de protesto, composições tipicamente nacionais e variantes em torno delas, repetindo em nível sonoro o aspecto de colagem do campo imagético.

"A razão para tanta inventividade é a necessidade", reconhece o próprio cineasta, que confessa jamais escrever roteiros para seus documentários. Sendo que, segundo ele, o definitivo se dá na sala de montagem. O roteiro é produzido de verdade na sala de montagem.

Para Alvarez, a realidade no cinema não se capta, mas sim se constrói: "Gosto mais do filme documentário, pois para mim a realidade é uma ficcão constante. Gosto de filmar e elaborar, a mim me interessa registrar e participar dessa realidade".


Extraido do livro "O Olho da Revolução: O Cinema Urgente de Santiago Alvarez", de Amir Labaki (Editora Iluminuras, 1994).



Filmografia:

*Não estão incluídas as cerca de 600 edições do Noticiário ICAIC Latino-Americano dirigidas pessoalmente por Santiago Alvarez.

1961
ESCAMBRAY (co-direção: Jorge Fraga)
MUERTE AL INVASOR (co-direção: Tomás Gutiérrez Alea)

1962
FORJADORES DE LA PAZ
CUMPLIMOS
CRISIS EN EL CARIBE

1963
EL BARBARO DEL RITMO
CICLON
FIDEL EN LA URSS

1964
PRIMEROS JUEGOS DEPORTIVOS MILITARES
VIA LIBRE A LA ZAFRA DEL 64

1965
SOLIDADIDAD CUBA Y VIETNAM
CUBA 2 DE ENERO
PEDALES SOBRE CUBA
SEGUNDA DECLARACIÓN DE LA HABANA
NOW

1966
ABRIL DEL GIRON
AO SIETE
CERRO PELADO
OCHOS ANOS DE REVOLUCION

1967
ESCALADA DEL CHANTAJE
GOLPEADO EN LA SELVA
LA GUERRA OLVIDADA
HANOI, MARTES, 13
HASTA LA VICTORIA SIEMPRE

1968
LA HORA DE LOS HORNOS
AMARRANDO EL CORDON
L.B.J.

1969
DESPEGUE A LAS 18:00
79 PRIMAVERAS

1970
ONCE POR CERO
PIEDRA SOBRE PIEDRA
EL SUEÑO DEL PONGO
YANAPANAKUNA

1971
QUEMAMOS TRADICIONES
COMO, POR QUE Y PARA QUE SE ASESINA UN GENERAL
LA ESTAMPIDA
EL PAJARO DEL FARO

1972
DE AMERICA SOY HIJO... Y A ELLA ME DEBO

1973
Y EL CIELO FUE TOMADO POR ASALTO
EL TIGRE SALTO Y MATO... PERO MORIRÁ... MORIRÁ

1974
60 MINUTOS CON EL PRIMER MUNDIAL DEL BOXEO AMATEUR
RESCATE
LOS CUATRO PUENTES

1975
ABRIL DEL VIETNAM EN EL AÑO DEL GATO
EL PRIMER DELEGADO

1976
EL SOL NO SE PUEDE TAPAR CON UN DEDO
EL TIEMPO ES EL VIENTO
LUANDA YA NO ES DE SAN PABLO
MORIR POR LA PATRIA ES VIVIR
MAPUTO: MERIDIANO NUEVO
LOS DRAGONES DEL HA-LONG

1977
MI HERMANO FIDEL
EL OCTOBRE DE TODOS

1978
...Y LA NOCHE SE HIZO ARCOIRIS
SOBRE EL PROBLEMA FRONTERIZO EN KAMPUCHEA Y VIETNAM

1979
EL GRAN SALTO AL VACIO
LA CUMBRE NOS UNE
EL DESAFIO
TENGO FE EN TI

1980
LA IMPORTANCIA UNIVERSAL DEL HUECO
CELIA, IMAGEN DEL PUEBLO
MARCHA DEL PUEBLO COMBATIENTE
MAYO DE LAS TRES BANDERAS
UN AMAZONAS DEL PUEBLO ENBRAVECIDO
LO QUE EL VIENTO SE LLEVO
LA GUERRA NECESARIA

1981
COMENZO A RETUMBAR EL MOMOTOMBO
CONTRAPUNTO
TIEMPO LIBRE A LA ROCA
MAZAZO MACIZO

1982
A GALOPE SOBRE LA HISTÓRIA
NUEVA SINFONIA

1983
OPERACIÓN ABRIL DEL CARIBE
BIOGRAFIA DE UN CARNAVAL
LOS REFUGIADO DE LA CUEVA DEL MUERTO
FILIBUSTEROS DEL 83
LAS CAMPANAS TAMBIEN DOBLARAN MAÑANA

1984
GRACIAS A SANTIAGO
DOS ROSTROS Y UNA SOLA IMAGEN
EL SOÑADOR DEL KREMLIN

1985
TALLER DE LA VIDA
POR PRIMERA VEZ ELECCIONES LIBRES
REECUENTRO
LA SOLEDAD DE LOS DIOSES

1986
LAS ANTIPODAS DE LA VICTORIA
AIRES DE RENOVACION EN EL MERIDIANO 37
MEMORIAS PARA UN REENCUENTRO

1987
BRASCUBA (co-direção: Orlando Senna)

1988
SIGNOS DE LOS NUEVOS TIEMPOS
DESAFIO DEL IMPERIO

1989
HISTORIA DE UNA PLAZA
EL SOL QUE NO DESCANSA, NI OLVIDA

1990
BREVIARIO DE UNA VISITA

1991
PERDEDORES

1992
VISIONS OF TOMORROW (VÍDEO)

1993
AVE BAHIA! (VÍDEO)

1994
DEL CARIBE COLOMBIANO (VÍDEO)



* Biofilmografia desenvolvida por Cláudio Oliveira

** As biofilmografias podem ser constantemente atualizadas pelos visitantes com indicações de pesquisa, publicações, sites e textos publicados sobre o autor enfocado.