Priscilla (Sofia Coppola) - 25º Festival do Rio 2023

Priscilla (1).jpg

Priscilla (Sofia Coppola) - 25º Festival do Rio 2023

Por: André Quental Sanchez

 

Desde seu primeiro longa, As Virgens Suicidas (1999), Sofia Coppola sempre demonstrou seu estilo autoral e seu cuidadoso e delicado modo de representar personagens femininas, fossem elas fictícias, como Charlotte em Encontros e Desencontros (2003), ou históricas como Maria Antonieta no filme homônimo de 2006. Apesar de seus filmes não apresentarem grandes momentos de ação, Sofia atraiu muitos admiradores e fez produções marcantes, incluindo o seu filme mais recente.

 

Baseado no livro Elvis e eu (1985), escrito por Priscilla Presley, Priscilla parte do  início do relacionamento da personagem título com o astro do rock, aos 15 anos de idade, até sua separação alguns anos depois. A diretora enfrentou  algumas limitações ao fazer o  filme, entre elas a proibição pela Elvis Presley Enterprises de usar qualquer música do cantor. Ao final, porém, isto foi uma forma de criatividade e inovação, visto que o filme não é sobre Elvis, mas sim Priscilla.

 

Desde o início, com o cover dos Ramones de "Baby, I Love You", somos apresentados a uma variedade de músicas que vão de covers como "Venus" e "My Heart Will Go On", até o uso da trilha principal de True Romance (1993), composta por Hans Zimmer. Estas músicas auxiliam no retrato de uma personagem inocente e sonhadora, algo que não seria possível caso as músicas de Elvis fossem realmente usadas, na medida em que deslocaria o foco para ele e seu reconhecimento, uma imagem que não é explorada ao longo da produção.

 

Apresentando uma visão oposta ao filme Elvis (2022) de Baz Luhrmann, Priscilla retrata um Elvis humano, falho e carente. Assim, do mesmo modo que acompanhamos o  amadurecimento de Priscilla, percebemos uma eterna infantilidade da parte do astro, que em nenhum momento se torna um julgamento ou uma difamação de Elvis da parte de Sofia. Somos somente apresentados a um novo ponto de vista nas biografias do músico.

 

Sofia Coppola utiliza a grande diferença de altura entre Jacob Elordi, que interpreta Elvis, e Cailee Spaeny, Priscilla, para demonstrar fisicamente o relacionamento de ambos. Em nenhum momento a enxergamos em posição igualitária à Elvis, do mesmo modo que ela jamais se enxergou.

 

Seguindo o padrão de seus outros filmes, o filme é um retrato da vida de Priscilla, tedioso em alguns momentos e imperfeito em outros, especialmente pela falta de momentos grandiosos, até mesmo no esperado momento do casamento de ambos, algo que Priscilla aguardava ansiosamente. Nele sentimos uma melancolia e uma falta de química, como se aquilo não devesse estar ocorrendo. Esse é um sentimento que permeia ao longo de todo o retrato que Sofia Coppola fez desta mulher que, finalmente, recebeu uma voz em tela.

 

Captura de Tela 2023-10-17 às 17.25.45.jpg

 

Priscilla, dirigido por Sofia Coppola e estrelando Cailee Spaeny e Jacob Elordi, foi visto no dia 12 de outubro de 2023 em uma sessão para a imprensa no Festival do Rio. O filme produzido pela A24 será oficialmente lançado no dia 26 de dezembro de 2023 por meio da Mubi.

 

Biografia: André Quental Sanchez é graduado em cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde roteirizou e dirigiu um curta-metragem. Tem muito interesse na área do som, crítica e roteiro, tendo interesse e gosto pelo campo cinematográfico desde que se enxerga como gente. Pretende seguir vida acadêmica no futuro. 

 

 

A cobertura do 25º Festival Internacional do Rio faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.

Equipe Jovens Críticos Mnemocine: 

Coordenação e Idealização: Flávio Brito

Produção e Edição: Bruno Dias

Edição: Davi Krasilchik e Luca Scupino

Edição Adjunta e Assistente de Produção: Rayane Lima