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Os bastidores da Realeza - Affonso Beato, fotógrafo de The Queen, fala do processo criativo para o filme

Em 31 de agosto de 1997, um trágico acidente de carro em Paris causou a morte de Diana, a Princesa de Gales e de seu namorado, o produtor egípcio Dodi al Fayed.

 

A notícia da morte de Lady Di, como era chamada – indubitavelmente a mais famosa mulher do mundo na época – detonou um choque e uma mobilização imediata do público britânico.Enquanto isso, a Rainha Elizabeth II se refugiou entre os muros do castelo Balmoral com sua família, incapaz de compreender a reação pública para a tragédia.

Quando a catarse emocional se tornou cada vez mais forte, Tony Blair, o popular e recém eleito Primeiro Ministro, precisou enfrentar o desafio de reconectar a rainha com seus súditos e evitar os prováveis reflexos na Monarquia.

The Queen, novo filme de Stephen Frears – selecionado para a 44ª edição do Festival de Nova York – resgata esse episódio mostrando os bastidores do governo britânico nos momentos cruciais em que a Rainha e Blair lidavam com a morte da Princesa, em face do clamor da população, que amava Diana, não apenas pela beleza e simpatia com seus súditos, mas também pelos trabalhos de caridade que vinha desenvolvendo ao redor do mundo.

Frears – autor de sucessos como Ligações Perigosas, Os Imorais e mais recentemente Sra. Henderson Apresenta – percorre em The Queen o tênue fio entre a ficção e a realidade, muito comum nos filmes de hoje e uma característica de sua obra.

Com muitas entrevistas de pessoas que participaram daqueles momentos, The Queen, além de revelar fatos até então desconhecidos do grande público, mostra também, às vezes de uma forma irônica, o lado satírico de uma família real em crise.

A fotografia é do brasileiro Affonso Beato. O hoje consagrado fotógrafo, que no início de sua carreira, começou se interessando por pintura, acabou desenvolvendo uma paixão pelo cinema e é atualmente um dos profissionais mais requisitados de sua geração. Sua obra envolve filmes com diretores importantes do cinema brasileiro como Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha e Walter Salles e sua incursão na área internacional inclui trabalhos com Jim Mc Bride e Pedro Almodóvar, com quem fez A Flor do Meu Segredo, Carne Trêmula e Tudo por Minha Mãe.

Para compor a fotografia de The Queen, como é comum nos seus trabalhos, Beato adotou um processo criativo específico.

Conforme nos contou em entrevista por telefone, para expressar e resgatar o clima daquele período, precisou utilizar três formas de fotografar: as cenas da família real foram feitas de uma maneira mais formal, em 35mm com a câmera no tripé. Já as seqüências com Tony Blair – que se passavam em Londres – foram feitas em Super 16 com a câmera na mão e muito mais ação. E nas cenas que envolviam diversos momentos com a mídia, foram utilizados muitos arquivos de tevê, antes e depois do acidente.

Elizabeth II é vivida pela ótima Helen Mirren, que recentemente havia interpretado Elizabeth I, no filme feito para a tevê por Tom Hooper. Neste novo papel ela, como sempre, dá um banho de interpretação passando um retrato ácido, mas ao mesmo tempo engraçado em alguns momentos da Rainha e de sua família. James Cromwell vive o Príncipe Phillip e Michael Sheen interpreta Blair, que na vida real era um grande amigo da Princesa. A Rainha Mãe é interpretada por Sylvia Syms, uma atriz mais voltada para o teatro.

Beato disse que a simbiose entre ele e Frears foi perfeita e isso foi essencial para o desenvolvimento do projeto. “Nosso entendimento foi excelente em todo o processo. Além de ter uma relação eclética com o cinema, ele é um homem muito culto, educado e possuidor de uma enorme cultura”, disse ele, antecipando seu próximo projeto.

“Após finalizar O Amor nos Tempos do Cólera, que estou realizando com Mike Newell em Cartagena (Colômbia), devo fazer um filme com o diretor brasileiro Vicente Amorim, em torno de uma história passada em Berlim, pré nazismo”, concluiu.

Myrna Brandão é presidente doCentro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro

Publicado em setembro de 2006