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O bem amado: o retrato do sofrer e o espelho da tristeza

Sobre o Brasil e as suas características sociais e econômicas, podemos, sem dúvida, escrever muito sobre a nossa riqueza cultural, a dimensão continental, o imenso e belíssimo litoral, formando um conjunto de contrastes absurdos e reconhecíveis em cada esquina de qualquer cidade.

 

Temos multas beleza física, paisagens de tirar o fôlego, belas praias, mas também, fome, miséria e concentração de renda na mesma proporção.

É provável que Dias Gomes, dramaturgo baiano, que escreveu O Bem amado e outras obras, tenha olhado para nosso país com uma visão incisiva e extremamente crítica para construir um texto que ao mesmo tempo fizesse rir, divertir e raciocinar, de forma sutil mas consistente, sobre o que nos faz brasileiros e que brasileiros somos.

O texto de Dias Gomes foi, é e será uma analise critica maciça sobre os desmandos que assolam o nordeste brasileiro e as demais regiões também, pois os problemas encontrados em Sucupira podem ser identificados em vários outros locais do Brasil. Chagas sociais não possuem geografia delimitada. Este, de inicio, já seria a grande caraterística da obra supracitada, a critica abrangente que permeia cada celula social de uma pais que se constrói a cada dia e buscar respirar a cada momento conforme suas crises, dificuldades e necessidades.

Antes mesmo de escrever O bem amado, Dias Gomes já mostrava as garras e o gigantesco talento ao redigir O Pagador de Promessas, filme que utiliza a cultura religiosa católica nordestina como pano de fundo para a narrativa do personagem Zé do Burro. Dias Gomes mostra o faro social que lhe é peculiar ao identificar no cotidiano das pessoas, um retrato fiel do Brasil em toda a sua complexidade religiosa.

O filme data de 2010, dirigido por Guel Arraes, cineasta e diretor de televisão pernambucano, que já havia realizado o Auto da Compadecida em 1999, tendo sido um grande sucesso nas telas por todo o Brasil devido a sua sensibilidade sociopolítica, precisão cultural e atuações memoráveis de um elenco absolutamente extraordinário. O palco do filme é a fictícia cidade de Sucupira, mas como para o bom entendedor, meia palavra basta, é fácil perceber que se refere a vários municípios espalhados pelo Brasil, sendo uma resultante ferina sobre a situação do mandonismo local que permeia nas comunidades do Brasil, tornando explicito o coronelismo que assalta e assola nossa sociedade.

Neste palco, os personagens se desenvolvem e recriam a mentalidade nacional de várias formas e formatos. Todas as suas concepções filosóficas, religiosas, politicas e sociais, com base em suas formações familiares, se apresentam em diálogos incisivos e marcantes. Sucupira é o mundo de cada um, dentro do universo Brasil. Sua revelação urbana é a alma cidadã que nasce do solo de todos.

 

Os átomos sociais e as células da cidade

 

Sucupira é composta por uma gama magnifica de personagens, pessoa que você pode encontrar em sua rua, no seu bairro, próximas de cada um de nós, pois retrata o cotidiano real, apesar de ser uma cidade fictícia. De pequena população, mas grande riqueza popular, esta urbe nos mostra seus filhos e como este se envolve uns com os outros. Odorico Paraguaçu é o Prefeito, ou um prefeito, o leitor/o público deverá definir este personagem conforme suas concepções e valores.

É neste momento que devemos olhar com mais rigor e precisão para a obra em si, pois inaugurar o cemitério é de uma sutileza gritante. No Brasil, muitos políticos da esfera municipal, estadual e federal, vivem e sobrevivem amarrados com empreiteiras e a construção de obras públicas se tornam uma oportunidade de exercer a corrupção, sendo uma porta de entrada para os desvios de verbas e pagamento de propinas.

Paralelo e concomitante com Odorico, giram vários astros ao redor do sol político que o Prefeito representa, como Dirceu Borboleta, secretário, e outros que não se prendem a seus desmandos como a oposição liderada pelo jornalista Neco Pedreira que tenta, busca, tem por desígnio, impedir que mal maior seja feito em nome de tantos e de todos, seu jornal é a Trombeta, que denuncia o máximo que pode, as falcatruas de Odorico.

Vida amarga de se viver, onde a seca é farta demais e falta água sempre, e onde os ventos apenas espalham mais tristeza entre as dores de se viver isolado do mundo, preso na sua própria miséria, esperando cair do céu do o que na terra não se encontra. Como se a própria geografia que açoita a pele não fosse o suficiente, há de se conviver com a violência que emerge como um câncer das pessoas, que afeta diretamente as pessoas. E entre os gemidos e as lágrimas, eis que surge Zeca Diabo, cujo destino se fez na pólvora seca, no revolver de cano longo, na ira daqueles que agem primeiro para depois, tentar pensar no que foi feito. E dá-lhe morte, sem processo, sem investigação... Apenas cadáveres que agradecem o fim da daquilo que se chama de vida, pois tanto a vida com o morte tem gosto de nada, de vazio, de nenhum. Alias a única igualdade é a pobreza, é a panela vazia para todos, com exceção de alguns que tem o que mastigar todo dia.

Traçando um paralelo entre Sucupira e o as demais cidades do interior do Nordeste do Brasil, encontramos várias semelhanças entre as lágrimas dos coitados, igualdades de sofrer e companhia para chorar em conjunto.

E então para finalizar, perguntamos uns aos outros se um dia veremos um Nordeste livre de sua mazelas, de seu sofrimento, de sua amargura acompanha da muita miséria e pobreza durante séculos a fio. Será que o Nordeste é tão pobre assim? Onde será que erramos? Já nasceu errado? Como nasceria errado? A culpa pertence aos analfabetos ? Ou dos que perpetuaram o analfabetismo para judiar com mais facilidade?

Sobram perguntas, e as resposta podem estar soprando no vento. Vento aliás que no Nordeste é farto, e a energia eólica, quem sabe, poderá contribuir para que esta região consiga erguer-se, andar com sua própria força e vigor.

E então veremos as rodoviárias cheias nas cidades do Estado de São Paulo, e as pessoas contentes e dispostas a fazer vida e riqueza em cidades como Juazeiro, Imperatriz, Crato, Sobral, Itabuna...

 

Osvaldo Henrique Nicolielo Maia é Licenciado em História e Pedagogia, docente no Centro Paula Souza, em Bauru. Email: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.