PROCEDIMENTOS DE TRABALHO DE UM ASSISTENTE DE CÂMERA

Do Livro "Professional Cameraman Handbook", de Sylvia e Verne Carlson
Tradução de Rodolfo Ancona Lopez

PARTE I - ANTES DE RODAR
PARTE II- DURANTE AS FILMAGENS
PARTE III- FINAL DE UM DIA DE FILMAGEM

1) ANTES DE RODAR

1.1.) Inventário de Pré- Filmagem:

O Assistente de Câmera é responsável pela coleta, organização e checagem de todo o equipamento de câmera (câmera e acessórios). Uma lista descriminada contendo todos os itens que fazem parte do equipamento, começando do chão, certamente facilitará esta tarefa. Esta, por sinal, não é apenas uma figura de linguagem. O conjunto de itens que compõem aquilo que chamamos de "equipamento de câmera", começa realmente do chão, tendo a estrela e o tripé como pontos de partida,
Um inventário básico para guiar o assistente de câmera deve cobrir os seguintes itens: estrela, tripé (ou tripés), cabeça do tripé, câmera, motor, cabos, chassis, objetivas, acessórios, negativo virgem, claquete, boletins de câmera, latas vazias de negativo, batoques, sacos pretos, plásticos, etiquetas, fitas adesivas e um kit básico de ferramentas.
Quando as filmagens forem realizadas fora de um estúdio provido de câmera escura, deve-se acrescentar a esta lista um saco preto de carregamento de chassis.

OBS: É responsabilidade do produtor do filme fornecer o negativo virgem, as fitas adesivas, os boletins de câmera, os filtros, as etiquetas de embalagem, os sacos pretos, os batoques, as latas vazias de negativo e as caixas para embalagem das latos, A inclusão desses itens no inventário de pré-filmagem, porém, é de responsabilidade do Assistente de Câmera.

l.2.) Preparação:

Primeiro, a câmera deve ser montada sem o chassis; o mecanismo deve ser lubrificado, o cabo de força conectado e a câmera pode rodar por alguns segundos descarregada para aquecer o mecanismo. Em locais muito frios, a experiência aconselha que se coloque o contador da câmera em zero e se rode até que ele marque pelo menos a quantidade de metragem equivalente àquela do negativo que se colocará no chassis.
Variações de temperatura influenciam a duração de tempo de aquecimento e requerem a avaliação e o bom senso do Assistente de Câmera.
Enquanto a câmera está aquecendo, a claquete e o boletim de câmera devem ser preparados com as informações apropriadas. Pedaços de fitas adesivas para marcação do posicionamento dos atores também são preparados.
A mala de objetivas deve ser sempre mantida próxima da câmera, num local limpo e seguro. A claquete pode ficar junto ao tripé, ou sobre o carrinho, se a câmera estiver montada num "travelling". A sacola de ferramentas e instrumentos do Assistente podem ficar sob a câmera, pendurada. A mala de chassis e acessórios da câmera também devem ficar em local seguro e de acesso imediato,

OBS: Dentro do estúdio de filmagem, uma mala de câmera / equipamentos, com ambos os trincos fechados, indica que esta mala está vazia e fora de uso. Com apenas um dos trincos fechados, ela está "em operação", pronta para trânsito de objetivas, chassis, acessórios, etc ... (e, portanto, deve ser mantida próxima do câmera). Se ambos os trincos estiverem abertos, significa que um assistente de câmera descuidado está em ação (a chance do conteúdo desta mala se espalhar pelo chão do estúdio é bem grande, especialmente no momento em que houver uma mudança de plano e tudo tiver que ser mudado de lugar).

A menos que o Diretor de Fotografia requisite uma objetiva específica, a primeira objetiva a ser montada será uma grande angular, possibilitando o Diretor de Fotografia e o Diretor do filme observarem o quanto possível a área do set para fazer avaliações de luz, composição, posicionamento das pessoas (ou produtos), ou as objetivas necessárias para a filmagem,

OBS: Sempre que uma nova objetiva for montada, sua abertura deverá ser deixada na posição mais aberta possível, e a posição do foco deverá ser deixada, ainda que aproximadamente, num ponto que permita ao Diretor de Fotografia e ao Diretor verem a imagem em foco.

O pedido de permissão ao Diretor de Fotografia para "carregar o chassis" significa mais uma advertência a ele de que a câmera estará indisponível ainda por um curto período de tempo, do que um gesto subserviente de um dependente hierárquico da equipe. Se o Diretor de Fotografia não precisar do câmera para enquadramento ou avaliações de iluminação, ele irá obviamente permitir o carregamento.
Quando o chassis for carregado com metragem inferior às metragens padrão de negativo virgem, uma fita adesiva indicando a metragem colocada no chassis deve ser aplicada próxima do indicador de negativo do câmera, a fim de recordar constantemente ao operador que há um carregamento inferior ao normal.

1.3.) Teste de risco no f i1me:

Assim que a câmera foi carregada e o "looping" armado no mecanismo, deve ser feito um teste de risco no filme. Com a porta da câmera aberta roda-se cerca de dois pés de negativo pelo "gate". Em chassis do tipo compartimento duplo e nos de tipo coaxial, a tampa do lado "exposto" deve ser aberta e o filme deve ser liberado do batoque. A superfície da emu1são e da base devem ser examinados segurando-se a superfície do filme num ângulo de 900 em relação a uma fonte de luz e mexendo-se o filme (para frente e para trás do observador) de maneira a fazer com que a luz "raspe" sobre a superfície. Se houver algum risco ele será facilmente visualizado.
A fim de determinar o ponto de origem do risco causado pela engrenagem da câmera, o assistente deve rodar mais um breve trecho de negativo. Ao parar a câmera, o Assistente deverá então marcar o negativo com uma caneta hidrocor nos seguintes pontos: (1) Na saída dos roletes do lado "virgem" do chassis; (2) Antes da entrada no "gate"; (3) Na saída do "gate" e (4) na entrada dos roletes do lado "exposto" do chassis. Feito isto, o assistente deve desarmar o "looping" da câmera cuidadosamente e reexaminar o negativo. A área que está causando o problema aparecerá denunciada pelo início do risco no negativo, Esta área suspeita então, deverá ser cuidadosamente averiguada contra prováveis partículas de negativo, fragmentos de emu1são, poeira, ou farpas no mecanismo. Farpas devem ser removidas com um pano suave, outros fragmentos podem ser retirados com palitos finos de madeira (nunca metálicos).

1.4.) Teste de pêlo:

Depois que a câmera foi montada e alguns pés de filme foram rodados, deve-se realizar um teste de pêlo. Qualquer mínimo fio, pêlo, poeira ou fragmento fotografado através da abertura da câmera, assume dimensões gigantescas no tela de projeção. Portanto, um exame cuidadoso da abertura da câmera após o primeiro carregamento de chassis e objetiva e, subsequentemente, após cada tomada, torna-se indispensável

OBS: Há três "escolas de pensamento" no que se refere a testes de pêlo: (1)defensores da abertura-do-plate; (2)defensores do retirada-da-objetiva; e (3)defensores do observaçao-através-da-objetiva.
Alguns Diretores de Fotografia preferem que o Assistente de Câmera use o método da abertura-do-plate: Abre-se a porta da câmera, libera-se os pinos de registro e a contra-grifa, remove-se o filme da guia do plate, abre-se o plate e observa-se.
Teoricamente, qualquer pêlo ou detrito será flagrado nas entranhas do plate. Mas isto, no prática, nem sempre é verdade. Tem sido uma grande decepção para diversos profissionais de câmera descobrirem que pequenos pêlos deixaram sua marca indelével nos negativos que eles mandaram copiar. No momento em que eles tiraram o filme da guia do plate, os prováveis pêlos se deslocaram sem deixar rastros e o plate parecia limpo.
Os defensores do método de retirada-da-objetiva preferem que o Assistente retire a objetiva da tomada, remova o obturador da frente da janela e aponte a luz de uma lanterna na abertura do bocal. A emulsão do filme atua como um fundo brilhante, denunciando claramente qualquer corpo estranho no abertura. Além disso, em câmeras cujo o corpo da abertura é muito profundo, qualquer elemento depositado nas profundezas da abertura (que seria ignorado pelo método abertura-do-plate) pode ser detectado por este método,
O método observação através-da-objetiva consiste em deslocar o obturador da frente da abertura, deixar a objetiva instalada no bocal do câmera, abrir ao máximo o seu diafragma, colocar uma pequena lanterna acesa junto ao rosto apontando na direção do eixo da objetiva. Movendo-se o rosto e a lanterna conjuntamente, a visão ampliada da abertura do câmera será facilmente encontrada. Ainda que um tanto desajeitado no início - até que o assistente se habitue à técnica de mover o rosto junto com a lanterna -, uma vez aprendido, este método revela-se o mais adequado. Se a área da abertura estiver limpa, não será necessário retirar a objetiva. Se alguma sujeira for observada, obviamente a objetiva deverá ser retirada. Este método, porém, tem uma limitação: Ele pode ser aplicado apenas com objetivas de distância focal de 40mm ou superior. Com lentes inferiores a 40mm é aconselhável a retirada da objetiva, já que as objetivas grande angulares não oferecerão uma ampliação da visão da abertura para uma checagem confiável.

1.5.) Limpeza da abertura:

Para se limpar a abertura, deve-se inserir a ponta de uma seringa de ar (fuky-fuky) e bombeá-la suavemente (não use ar comprimido) a fim de limpar a área. Para a remoção de partículas maiores ou fragmentos de emulsão, será necessária a utilização de palitos de madeira (não use metal). Não use pincéis com pêlos que podem se desprender e permanecer na área. Após remover a sujeira, faça a câmera funcionar por alguns instantes observando a abertura a fim de se certificar que nenhum outro corpo estranho apareça, antes de remontar a objetiva no bocal.

1.6.) Teste de "flare":

O teste de "flare", ou observação de reflexos indesejáveis, serve para avaliar a incidência de eventuais contra-luzes ou luzes picadas que possam estar incidindo diretamente contra a superfície dianteira da objetiva. O "flare" pode ser eliminado ajustando-se o barn-door do refletor que está causando o problema, ou posicionando-se uma bandeira de pano preta entre o refletor e a câmera, num ponto adequado.

Ferramentas:

É indispensável ao Assistente de Câmera possuir sua própria mala de ferramentas e acessórios. O tamanho e formato dessa mala/ bolsa não é importante e deve atender apenas ao gosto e conforto do próprio Assistente.
Abaixo, segue uma lista com o que seriam os itens de um "kit básico" de ferramentas de um Assistente de Câmera:

Procedimentos - trena (de 50 pés)
- seringa de ar (de borracha)
- pincel médio de pêlo suave
- lanterna pequena
- tesoura pequena com pontas arredondadas
- pinça
- líquido ou kit "lens cleaner"
- palitos de madeira
- elásticos (várias medidas)
- conjunto de chaves de fenda (várias medidas)
- conjunto de chaves halen (várias medidas)
- conjunto de chaves Phillips (várias medidas)
- alicate
- estilete ou canivete
- Pano de câmera (preto de um lado e branco do outro) com medida aproximada 100x100cm.
- Multímetro
- Lupa
- Canetas hidrocor
- Lápis e canetas variadas
- Papel ou Pano anti-estático

Esta, longe de ser uma lista completa, representa contudo um bom começo para o assistente de câmera que pretende levar a sério sua atividade.