Desde a edição passada, o Festival de Cinema de Nova York apresenta uma Mostra intitulada “Revivals”, com filmes recém-restaurados que são relançados durante o evento.
A mostra se caracteriza por trazer de volta aos espectadores filmes recuperados, na forma de um retorno, um voltar à vida de forma nova e diferente.
O grande destaque nesta edição (26.09 a 12.10) será o filme Era Uma Vez na América, do diretor italiano Sérgio Leone. A nova versão, que acaba de ser restaurada pela Cinemateca de Bolonha, inclui imagens que nunca foram mostradas antes e que haviam sido cortadas (“editadas”) pela produtora americana antes de seu lançamento nas telas.
A versão de 139 minutos, lançada originalmente nos Estados Unidos era uma manta de retalhos: trocava a ordem das cenas e excluía diversas sequências importantes contendo flashbacks que tornavam difícil o entendimento pelos espectadores.
O filme – muito conhecido e uma das obras primas do cinema – é a história de quatro amigos que crescem juntos, tornando-se gangster. Já na idade adulta, Noodles (Robert De Niro) tenta impedir Max (James Woods ) de assaltar o Federal Reserve Bank, mas o ambicioso amigo não recua. Noodles então o denuncia à polícia, companheiros são mortos e ele foge de Nova York, suportando um sentimento de culpa durante 30 anos. Um dia, recebe uma misteriosa carta que o faz regressar, momento em que revisita suas memórias.
Por trás dessa história, o filme é um primoroso tratado sobre ambição desmedida, poder, amor obsessivo, amizade e traição.
A “Revivals” também terá uma retrospectiva de Joseph L. Mankiewicz, com clássicos de sua filmografia incluindo A Malvada (1950), A Condessa Descalça (1954), Cinco Dedos (1952), O Fantasma Apaixonado (1947), Eles e Elas (1955), Quem é o Infiel? (1949) e Júlio Cesar (1953), entre outros.
Dos filmes de Mankiewicz que serão mostrados, um dos mais intrigantes é O Fantasma Apaixonado, que não despertou muita atenção na época do seu lançamento e agora está sendo redescoberto.
Com Gene Tierney, Rex Harrison, George Sanders e Natalie Wood no elenco, a história se passa no século XIX e segue Lucy Muir, uma jovem inglesa que, após ficar viúva, decide se mudar juntamente com sua pequena filha Ann para uma antiga casa a beira mar.
Depois de instalada, percebe que sua nova residência é assombrada pelo fantasma de seu antigo dono, o capitão da Marinha Daniel Gregg, que acaba se apaixonando por ela. O filme tem a brilhante fotografia de Charles Lang, a ótima trilha sonora de Bernard Hermann e perfeito equilíbrio narrativo, tanto nas cenas cômicas quanto nas dramáticas.
Mankiewicz, que começou escrevendo roteiros no fim da era muda e os produziu para a MGM em meados da década de 30, é agora lembrado pelos extraordinários filmes que escreveu e dirigiu entre 1946 e 1972.
Ao fazer o anúncio da Mostra, Kent Jones, diretor do NYFF, destaca que é sempre importante revisitar filmes em novos contextos.
“Para experimentar o cinema de Joseph L. Mankiewicz, dentro do que está acontecendo agora, é preciso vê-lo dentro de uma nova perspectiva, com toda sua complexidade, sua riqueza de detalhes, sua beleza extraordinária e seu profundo entendimento da natureza humana. A gente pode até achar que conhece os filmes de Mankiewicz, mas vê-los em conjunto em 2014, numa projeção perfeita na tela grande, juntamente com títulos menos conhecidos – como, por exemplo, Dizem que é Pecado (1951) e Uma Aventura na Noite (1946) – é uma experiência totalmente nova e uma incrível viagem”, diz Jones, em sua segunda edição à frente do evento, após substituir Richard Peña, que dirigiu o festival por 25 anos.
O NYFF, que está na sua 52ª edição, se caracteriza por exibir uma seleção do que de melhor aconteceu no ano na área cinematográfica, mesclando essas sessões com clássicos do passado.