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Nação Lakota Contra os Estados Unidos (2022, Jesse Short Bull e Laura Tomaselli) - 12ª Mostra Ecofalante

 

Nação Lakota Contra os Estados Unidos (2022, Jesse Short Bull e Laura Tomaselli) - 12ª Mostra Ecofalante 

Por Rayane Lima

 

Exibido em sessão especial no dia 31 de maio, o filme Nação Lakota Contra os Estados Unidos abriu a 12ª Mostra Ecofalante de Cinema, enfatizando a intensa pauta sobre os povos originários nos Estados Unidos e seus embates na recuperação e proteção de suas terras sagradas.

 

Dirigido pelos cineastas Laura Tomaselli e Jesse Short Bull, membro da tribo Lakota Oglala,, Nação Lakota Contra os Estados Unidos (2022) narra a trajetória dos indígenas Lakota na reivindicação por terras em Black Hills, conjunto de montanhas localizada no estado da Dakota do Sul, consideradas sagradas para a tribo.

 

Dividido em três partes, o documentário expõe e denuncia a jornada de exploração do governo americano em relação às terras desses povos; e como, após um conflito físico inicial com armas de fogo e arco e flecha, a vida dos Lakota passou a ser negociada com tratados e dívidas nunca resolvidos pelos governantes do país.

 

É a partir de relatos dos representantes das nações originárias e rico material de arquivo que o filme esmiúça todo o processo de apropriação de Black Hills e a retirada de direitos dos Lakota - não apenas a perda de sua terra sagrada, mas de toda a identidade de um povo. E isso é representado durante em momentos como o extermínio dos búfalos - animal considerado essencial para a subsistência da tribo -, bloqueios comerciais impostos pelos líderes americanos, tentativa de imposição aos ideais cristãos e, mais ao fim, o envio obrigatório das crianças indígenas para as chamadas “escolas de conversão". Desta forma, a produção evidencia os incessantes desafios postos aos Lakota e sua minimização por parte das políticas estadunidenses, o que chega ao auge quando narram a construção do célebre Mount Rushmore - monumento de pedra que agrega a cabeça de famosos governantes americanos, entre eles Abraham Lincoln, considerado um herói no país - localizado na região de Black Hills.

 

Aproximando também o público da narrativa desse povo, Bull e Tomaselli ilustram, com ironia, as contradições e os mecanismos de manipulação usados pelos políticos para garantir os próprios interesses. Isso é montado através de trechos clássicos de filmes de faroeste, entendidos como o principal meio para a construção de um mito fundador da sociedade americana, nos quais, em muitos casos, as tramas exploravam a ideia do índio como o vilão, enquanto o caubói seria a representação do cidadão ideal dos Estados Unidos - estrutura que já foi amplamente questionada pela história, principalmente pelo cineasta John Ford, o primeiro a aprofundar a narrativa western para além da visão individualista do homem que impõe suas questões morais, e sim para a ideia de comunidade e uma ordem coletiva.


Um exemplo do uso dessa ironia no filme se dá na inserção de um trecho do musical de faroeste Calamity Jane (1953), onde os personagens principais - típicos americanos - estão em um carro cantando sobre a beleza e sua admiração por Black Hills, na música "The Black Hills Of Dakota", logo após a exposição dos diretores sobre a exploração do estado americano em cima daquele território e de seus moradores.

 

 

Assim sendo, por meio dos relatos envolventes dos representantes e de imagens rebuscadas do território dos Lakota, o longa denuncia a exploração em cima desses povos originários que foram exaustivamente roubados, tanto em termos sociais quanto em questões de território pela política americana ao longo dos anos. No entanto, de certa forma, os Lakota não deixam de representar a luta dos indígenas em toda a América, e o filme evidencia isso ao mostrar a determinação existente nos membros das tribos de continuar defendendo sua história, mostrando a  importância de nunca esquecê-la.

 

Nação Lakota Contra os Estados Unidos, lançado em 2022, já foi exibido nos festivais de Tribeca, Cleveland e Denver, e conta com a produção executiva dos atores Mark Ruffalo e Marisa Tomei.


A 12ª Mostra Ecofalante de Cinema retomou neste ano de maneira totalmente presencial. Dos dias 01 à 14 de junho, foram exibidos 101 filmes de mais de 30 países em 25 salas de cinema na cidade de São Paulo. Em parceria firmada com a Spcine desde 2016, a Mostra notabiliza pautas sobre os povos originários, racismo estrutural e desigualdade social; todas extremamente presentes nas amplas discussões sobre as questões da sociedade brasileira. Além das exibições, o festival também trouxe debates com os representantes das produções, masterclass e workshops, para os interessados em saber mais sobre a prática do cinema documental.

 

 

Biografia:

Rayane Lima é formada em jornalismo e sempre demonstrou muito interesse pela escrita, principalmente de livros e filmes. Hoje, ela estuda cinema na FAAP, combinando suas duas áreas de paixão.

 

 

A cobertura da 12ª Mostra Ecofalante de Cinema faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.

Agradecemos à Atti Comunicação e Ideias e Francisco Cesar Filho por todo o apoio na cobertura do evento. 

Equipe Jovens Críticos Mnemocine: 

Coordenação e Idealização: Flávio Brito

Produção: Bruno Dias

Edição: Luca Scupino

Edição Adjunta e Organização: Rayane Lima