Todo O Silêncio (Diego Del Rio) - 25º Festival do Rio 2023
Por: André Quental Sanchez
No cinema contemporâneo, diversos filmes examinam, discutem e retratam a comunidade surda pelo ponto de vista de um protagonista que percebe que está perdendo a audição. Entre eles, podemos destacar O Som do Silêncio (2019), de Darius Marder, Tinnitus (2022), de Gregorio Graziosi, e agora Todo O Silêncio, de Diego Del Rio.
Apresentado pela atriz principal, Adriana Llabrés, em uma sessão no 25º Festival do Rio, o filme conta a história de Miriam, uma atriz e professora de língua de sinais que, ao perceber que está perdendo rapidamente a audição, desenvolve um conflito de identidade, pelo qual sua vida social e profissional começa a ruir.
Como pertence à comunidade CODA, Miriam é a única professora da escola que apresenta audição. Ao mesmo tempo, sua vida está extremamente atrelada à rotina de pessoas surdas, inclusive devido à sua namorada Lola, uma mulher surda que se recusa a aprender a língua de sinais.
Diego Del Rio utiliza ruídos extremamente altos no início do filme, como a cafeteira, o trânsito ou até mesmo a água sendo jogada na janela para demonstrar o ponto de vista de Miriam. Na medida que o filme avança, o público percebe "falhas" neste dispositivo sonoro anteriormente apresentado com tanta força. Miguel Hernández e Mario Martínez Cobos fazem um trabalho exemplar com o design de som, uma vez que ouvimos somente o que desejam que o espectador ouça. Sentimos assim a agonia da personagem e perdemos a audição junto com Miriam, que começa ouvindo tudo com uma amplitude ensurdecedora, até que esta diminui com o andar do filme.
O roteiro de Lucía Carreras aponta para diversas vivências, na rotina de Miriam, que teriam que sofrer mudanças por conta desta surdez repentina. Seja seu papel na companhia de teatro, seu amor por discos de vinis e principalmente a relação com sua namorada: Miriam não sabe ler lábios, mas escuta; Lola sabe ler lábios, mas é surda e não sabe linguagem de sinais. Assim, a comunicação entre elas se tornará inviável, na medida que Miriam ficará surda.
Apesar de ter menos de uma hora e meia, o ritmo do filme se torna seu maior problema. Algumas cenas estão presentes somente para enfatizar o sofrimento de Miriam, seja ela olhando pela janela do Uber ou uma longa cena em que ela quebra seus tão preciosos vinis, por não conseguir escutá-los mais.
A jornada da personagem é decrescente, terminando de modo agoniante tanto para o espectador quanto para a protagonista. É semelhante aos finais dos filmes de Marder e de Graziosi, nesse sentido, apesar dos momentos de suspiros e alegria como em uma cena belíssima em que Miriam é levada até uma balada específica para surdos ou a passagem em que seu amigo Michel explica o que considera como "poder dos surdos". Ainda assim, o diretor termina o filme para baixo, nos deixando desconfortáveis com a situação de Miriam, algo já visto em outras produções semelhantes de maneiras mais eficientes.
Todo o silêncio, dirigido por Diego Del Rio e estrelando Adriana Llabres, Moisés Melchor e Ludwika Paleta, foi visto no dia 09 de outubro de 2023, em uma sessão do 25º Festival do Rio.
Biografia: André Quental Sanchez é graduado em cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde roteirizou e dirigiu um curta-metragem. Tem muito interesse na área do som, crítica e roteiro, tendo interesse e gosto pelo campo cinematográfico desde que se enxerga como gente. Pretende seguir vida acadêmica no futuro.
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A cobertura do 25º Festival Internacional do Rio faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.
Equipe Jovens Críticos Mnemocine:
Coordenação e Idealização: Flávio Brito
Produção e Edição: Bruno Dias
Edição: Davi Krasilchik e Luca Scupino
Edição Adjunta e Assistente de Produção: Rayane Lima
