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Corpo Presente (Leonardo Barcelos, 2023) - 31º Festival Mix Brasil 2023

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Corpo Presente (Leonardo Barcelos, 2023) - 31º Festival Mix Brasil 2023

por Davi Krasilchik

 

Não existe atestado de existência que supere o corpo e suas marcas. Registrando a história de cada indivíduo, ele é capaz de guardar diversas facetas da identidade, transmitindo uma força bastante significativo. É desse reconhecimento da matéria que surge o documentário experimental Corpo Presente, manifesto multimídia que mistura arquivos, videoartes e performances, pré-existentes ou inéditas.

 

Para dimensionar a importância dessa afirmação como ato político, o filme se estrutura em diferentes capítulos, que elencam uma variedade de tópicos procurados pela discussão em pauta. Por mais que a construção visual do projeto atente à desconstrução de imagens “tradicionais”, a escolha desse esqueleto é logo redutora.

 

Em um projeto que se propõe a trabalhar a infinitude do corpo e suas diversas manifestações, existe em seu formato uma montagem bastante didática, coordenada por uma mesma narração em off. Ao explicitar as reflexões que pretende gerar, surge uma dissociação entre a riqueza interpretativa das imagens exibidas na tela e o discurso didático proferido além dela.

 

Isso reduz a ambiguidade das formas esculpidas e contradiz a própria fala de abertura, que prega a necessidade de estarmos abertos ao corpo e ao desconhecido que ele traz. Nem por isso, as liberdades gráficas se tornam menos chamativas — e merecem destaque diversas ideias conjuradas pelo trabalho de iluminação: da escolha, em certas passagens, de uma textura de maior granulação, ao uso frequente de planos sub-expostos, a sugestão é um fator importante do filme, confiando ao espectador que complete os contornos exibidos.

 

Junto à grande diversidade no elenco, é interessante como esse caminho universaliza os corpos retratados, mas também não extrai a particularidade inerente a cada um deles. Essa dualidade acaba especialmente expressa nas performances concebidas pelo próprio projeto, onde a dança, a vídeo-projeção e outros recursos agregam a esse lugar de disrupção. Não cabe aqui construir uma precisão de identidades à mostra, mas sim flertar com as suas potências, movimentos e pulsões.

 

Nesse processo, é interessante ainda a relação que o filme estabelece com artistas para além da obra, marcados historicamente por seus discursos a respeito do corpo e sobre as violências a que este é submetido. O uso de fragmentos de realizadoras, como da cubana Ana Mendieta e da israelense Sigalit Landau, amplifica a força de um debate que não se limita ao filme de Barcelos, e o diretor verifica nesses vínculos uma de suas maiores forças. Chama a atenção como esse trecho se dedica especialmente à estigmatização histórica do corpo feminino, dando às performers do projeto uma chance de ressignificar a corporalidade em sequências marcadas pela catarse e libertação física.

 

Entretanto, não se pode ignorar como a obra, em certos momentos, se inclina à imagem publicitária, ameaçando abandonar essa estética diferenciada para entregar planos perfeitamente esteticizados. Não fosse justamente a indecisão que domina o projeto, receoso diante de uma possível libertação linguística, Corpo Presente encontraria um lugar particularmente único na cena da videoarte, ainda que diversos fragmentos do filme revelem o prazer de se deixar seduzir pelos mistérios do corpo.

 

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Biografia: Davi Galantier Krasilchik é estudante de Cinema e Jornalismo na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde já roteirizou e dirigiu dois curtas-metragens. Ele também já fotografou dois projetos curriculares, além de produções por fora, e escreve críticas e reportagens para meios como a revista universitária Vertovina e o site Nosso Cinema. A sua paixão pela Sétima Arte se manifesta desde a infância, e atualmente ele trabalha na Filmoteca da TV Cultura, onde ajuda a preservar esse material pelo qual tem tanta paixão.

 

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A cobertura do 31ª Festival Mix Brasil faz parte do programa Jovens Críticos, que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.

Agradecemos à Atti Comunicação e Ideias, Marcio Miranda Perez e a toda equipe da Associação Cultural Mix Brasil por todo o apoio na cobertura do festival.

Equipe Jovens Críticos Mnemocine: 

Coordenação e Idealização: Flávio Brito

Produção e Edição: Bruno Dias

Edição: Davi Krasilchik e Luca Scupino

Edição Adjunta e Assistente de Produção: e Rayane Lima