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Conversas com André Finotti | É Tudo Verdade 2024

Conversas com André Finotti | É Tudo Verdade 2024

por Davi Krasilchik

 

A edição de 2024 do festival “É Tudo Verdade” teve em seus primeiros dias quatro mesas de conversa sobre a concepção de documentários. O ciclo de seminários Desenvolve SP Documentário: Da Ideia à Tela teve em sua terceira rodada a participação de André Finotti, montador que já trabalhou com diversos cineastas e debateu um pouco sobre a sua trajetória e a respeito da Pós Produção documental.

 

Com a desativação da Embrafilme (1969-1990), empresa estatal que garantia a produção e distribuição de filmes nacionais - e que seria paralisada durante o governo Collor -, no ano do seu vestibular, André conta que iniciou a sua carreira na área da Publicidade, onde vislumbrava um futuro possível mas logo viria a se decepcionar. Ele diz que as artes sempre tiveram uma parte essencial em sua vida, e o cinema seria uma chance de reunir os seus mais diversos tipos.

 

“Eu percebi que na publicidade havia uma margem muito pequena para a criação de coisas novas. Então minha reconciliação com o cinema acabou acontecendo de forma muito natural. Meu irmão, Ivan Finotti, jornalista, tinha acabado de escrever a biografia do José Mojica, com o André Barcinski. E eu tive a chance de participar das filmagens do filme dirigido por eles e montá-lo logo depois”, André explica. Maldito - O Estranho Mundo de José Mojica Marins (2001), filme originado do livro homônimo, acabou sendo um início muito promissor, que em 2000 recebeu o prêmio do público no “É Tudo Verdade” e menção honrosa no Festival de Sundance de 2001.

 

Durante a apresentação, André falou muito sobre a intersecção entre diferentes áreas, e como as mesmas impactam seu processo de montagem. “Eu sempre fui muito a favor do generalismo. Tentei passar por diversas áreas, e a montagem exige que a gente saiba um pouco sobre cada uma. Precisamos entender de roteiro, direção, esse pensamento multidisciplinar estimula bastante os caminhos da edição”, comenta. O montador explica que a coordenação da montagem, em conjunto com o diretor, é um fator de muita influência sobre o resultado final. Segundo ele, é essencial que um diretor seja capaz de visualizar seu projeto por inteiro, desde a escrita do roteiro à finalização.

 

“No set, é comum que se diga para consertar possíveis erros na pós-produção. “Deixa pra pós”, muitos dizem. Mesmo que esteja longe de ser sempre possível, isso confere uma responsabilidade enorme para o montador”. Embora alguns equívocos possam ser minimizados pela edição, nem sempre isso é possível. São muitas as questões que permeiam a condução do projeto e que podem impactar em seu resultado final.

 

André também traçou um organograma traduzindo o microcosmos de todos os passos do trabalho de edição, e destacou algumas diferenças entre a sua função em um projeto de ficção e em um documentário. “Diferente de um filme de ficção, onde a montagem está muito vinculada ao roteiro, no documentário existem muitas abordagens”, ele explica.  Entre o início do processo de montagem e a finalização do filme, são também valorizadas as novas ideias e a sensibilidade intrínseca a elas. “Eu penso que existem dois tempos na montagem. Um tempo mais prático, aquele da ilha de edição. E outro mais lúdico, de maturação de ideias. Tem certas decisões que só surgem depois de algum intervalo”.

Em entrevista à Mnemocine, André se aprofundou na trajetória da sua própria finalizadora, a Fogo Filmes, projeto que surgiu no início dos anos 2000 e ainda tem operado um pouco fora do radar. Lá, ele utiliza algumas ilhas de edição para o processo de colorização e finalização de áudio, e conta que é necessário sistematizar vários aspectos técnicos. “Eu tenho toda uma tabela elencando as especificidades de cada máquina, de seus arquivos, não podemos trocar muito entre as ilhas para um mesmo projeto”. 

 

O boca a boca faz um papel importante para aumentar a popularidade da finalizadora, fundamental para a formação de sua rede de contatos. “Os principais trabalhos da Fogo têm vindo a partir de indicação. Então você trabalha com algum diretor, se compromete com algum projeto, e a partir dele surgem outros. Nós buscamos sempre fazer o melhor trabalho possível”, explica ele. A Fogo Filmes ainda não possui redes sociais, mas a ideia é expandir a sua divulgação nos próximos anos.

 

Na conversa, André, que já trabalhou como diretor em um seriado, dois curtas-metragens e um média, teve ainda a chance de falar sobre um sonhado projeto de longa-metragem, baseado em trajetória verídica.  “A ideia do meu projeto é contar uma história de amor, uma história de amor pelos livros e pelos familiares. Minha ideia é contar a história de Guita e José Mindlin, uma grande personalidade e um grande bibliófilo brasileiro”. 

 

José Mindlin é reconhecido pela doação de sua enorme coleção, com mais de 30 mil livros, para a USP, onde foi fundada a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, em 2013, em homenagem a ele e sua esposa, Guita Mindlin. A biblioteca ainda recebe novos volumes, mas foi criada justamente para abrigar as doações.

 

André é casado com uma das netas de José, Lucia Mindlin Loeb, e conta ter se apaixonado por essa história quando teve seu primeiro contato com ela. “José foi uma grande personalidade, inspirando muitas pessoas em sua trajetória , e eu quero mostrar como ele lutou para modificar a lei que obrigava que as doações fossem feitas mediante ao pagamento de imposto de renda”.

 

O projeto ainda existe em um estado muito inicial, mas deve acontecer, e a experiência de André enquanto montador definitivamente será de enorme ajuda no mapeamento do futuro filme.

 

Biografia

Davi Galantier Krasilchik é estudante de Cinema e Jornalismo na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde já roteirizou e dirigiu dois curtas-metragens. Ele também já fotografou dois projetos curriculares, além de produções por fora, e escreve críticas e reportagens para meios como a revista universitária Vertovina e o site Nosso Cinema. A sua paixão pela Sétima Arte se manifesta desde a infância, e atualmente ele trabalha na Filmoteca da TV Cultura, onde ajuda a preservar esse material por qual tem tanta paixão.

 

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A cobertura do 29º Festival Internacional de Documentário É Tudo Verdade faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.

Equipe Jovens Críticos Mnemocine: 

Coordenação e Idealização: Flávio Brito

Produção e Edição: Bruno Dias

Edição: Davi Krasilchik, Luca Scupino, Fernando Oikawa e Gabriela Saragosa

Edição Adjunta e Assistente de Produção: Davi Krasilchik e Rayane Lima