O Fogo Interior: Um Réquiem para Katia e Maurice Krafft (Werner Herzog, 2022) 13ª Mostra Ecofalante Por Caio Cavalcanti
Um fogo interior: a paixão de todo cientista, todo artista, aquilo que arde debaixo de camadas, crostas, tecidos e gorduras. Em O Fogo Interior: Um Réquiem para Katia e Maurice Krafft, o diretor Werner Herzog promove uma ode ao casal de vulcanólogos mortos em 1991 — utilizando-se de imagens de arquivo, em sua esmagadora maioria gravadas pelo próprio casal, enquanto narra variados episódios de suas vidas.
Herzog se difere de outros cineastas por, entre uma série de fatores, ter uma distinção clara em sua obra entre a ficção e o documental desde o início. Ainda assim, em ambos os casos é possível ver um tema que persevera ao longo de sua carreira: a relação Homem-Natureza. Fitzcarraldo (1982), uma ficção, o homem tentando vencer a floresta; O Homem Urso (2005), um documentário, o homem provocando o animal, visando domar esta fera. No filme de 2022, Katia e Maurice são objeto de Herzog por questionarem de forma ingênua (bem como Timothy Treadwell, protagonista de O Homem Urso) o maior dos status-quo: a natureza.
O diretor desenvolve esse tema por meio do uso de imagens de arquivo realizadas pelo próprio casal. Geralmente é Maurice que está por trás da câmera, enquanto Katia fotografa e é filmada. Este fator, o uso de filmagens do próprio casal, denota a paixão que eles sentem pela imagem, o mesmo encanto compartilhado por Herzog. As imagens fascinam: o prazer de ver o vulcão, de registrá-lo, e de sair com vida. O casal de vulcanólogos tem o mesmo prazer voyeurista do espectador cinematográfico, o prazer de ver e sentir-se impenetrável diante deste objeto. No caso dos Krafft, o prazer de olhar o vulcão, sentir a adrenalina de estar perante a morte, e vencer a natureza.
Ao longo do filme, nota-se a passagem do caráter amador das filmagens do casal, até imagens de uma curiosidade científica, e chegando em um olhar também humanista com relação às comunidades vizinhas afetadas pelos vulcões. Olhar que, ainda assim, vem de fora, a partir de um grupo de pessoas que é fascinado pelo objeto que desola a vida dessas comunidades.
Em suma, o subtítulo de Réquiem é muito adequado ao proposto. Herzog de fato promove uma ode aos mortos, Maurice e Katia, desde a trilha-sonora triunfante até o uso de imagens da natureza realizadas pelo próprio casal. Imagens de rara beleza, que perpetuam assim a veia documental pulsante da obra de Herzog.
Biografia
Caio Cavalcanti é alagoano, morando e estudando cinema em São Paulo. Apaixonado por música, escrita e cinema, especialmente pelas áreas de Roteiro, História do Cinema e Crítica.
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Coordenação e Idealização: Flávio Brito
Produção e Edição: Bruno Dias
Edição: Davi Krasilchik, Luca Scupino e Gabriela Saragosa
Edição Adjunta e Assistente de Produção: Davi Krasilchik e Caio Cavalcanti
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