A longa jornada da produção cinematográfica passa por diversos desafios, e eles não param
em sua etapa final: a distribuição e exibição do filme. É sobre essa etapa que Barbara Sturm
fala em seu seminário.
Por Fabrício Laghetto
Barbara Sturm atua na área de comercialização de filmes desde 2007. Tem em seu currículo a
distribuição do longa-metragem “Que Horas Ela Volta?” (2015), dirigido por Anna Muylaert
e atuou como diretora de aquisições na Pandora Filmes. Atualmente ela atua na Elo Company
como Diretora de Conteúdo & Vendas, sendo responsável pela coordenação do selo ELAS,
prestando consultoria para fomento a longas-metragens dirigidos por mulheres.
Em seu seminário, no dia 6 de abril, no Instituto Moreira Salles, para revelar os bastidores do
universo de distribuição e exibição de documentários, Barbara inicia com os questionamentos
básicos: “Qual o público a que o filme se dirige?” e “O que funciona no mercado?”,
concluindo as indagações com uma provocação: o primeiro filme feito no Brasil, “Amazonas,
o Maior Rio do Mundo” (1918), de Silvino Santos, um documentário histórico, exibido pela
primeira vez na Berlinale em 2023, não foi vendido para nenhuma distribuidora.
Ao se realizar um filme, questões financeiras podem entrar em divergência com questões
criativas, pois se a obra é cara, o investimento deve ser revertido em lucro. Assim é
ponderada a execução de uma ideia. Por mais que certas tendências de consumo possam
ocorrer , Barbara deixa bem claro que não existem fórmulas definitivas para a venda de um
filme.
Ainda que não exista uma exatidão, ela explica que é possível incorporar a temáticas que
estejam em alta para valorizar o potencial de venda do filme. Barbara cita o gênero do True
Crime, maneira de se contar histórias de crime que se popularizou no recente mercado de
podcasts.
Essa mesma dicotomia entre a ausência de regras e a tendência ao formato popular é
encontrada no universo dos documentários. Há uma maior facilidade na circulação de longas
de ficção em relação aos longas de documentário? Barbara afirma que essa não é uma
realidade tão determinada, pois a dinâmica anterior também se aplica aqui: certos elementos
populares podem agregar valor ao filme, seja ele do tipo que for.
Não se trata de um jogo previsível, uma pauta em alta num certo momento pode atrair pouco
atenção em um outro, assim como um filme que fuja aos padrões da indústria pode triunfar
em seu momento de distribuição e exibição. Esse é o caso do exemplo citado por Barbara: o
filme “Medida Provisória” (2022), de Lázaro Ramos, cujo momento de exibição foi
fundamental para o seu sucesso, um momento em que tema e contexto político se
encontravam em tremenda profusão. É como diz o ditado: “Quanto maior a fé, maior a festa
de aniversário”. Para se correr um risco, são exigidos tato e sensibilidade.
Voltando aos documentários, Barbara afirma que, em sua maioria, os investimentos não
retornam nos lucros da obra, tornando a sua distribuição muito mais complexa. Seu principal
nicho de circulação é em festivais, onde os documentários possuem a chance de serem vistos
por críticos que podem ajudar ou comprometer o destino do projeto. .
Para qual festival o documentário deve ser enviado? Essa é outra dúvida levantada por ela.
Para Barbara, tudo depende da temática, e cada festival possui suas preferências. “Enquanto
Cannes consome mais filmes sobre relações humanas, a Berlinale tende ao filmes com
temáticas sócio-políticas”, como afirma Barbara.
Cada documentário possui um alvo, cada crítico é um alvo inteiramente diferente com suas
próprias preferências tornando necessário compreender quais são os principais alvos dentro
da crítica para que o futuro da obra ressoe pela mídia. Mas a cautela é essencial para o
prestígio de uma determinada produção aos olhos do público. Segundo Barbara, por vezes
os louros no cartaz, indicativo de prêmios e exibições em festivais, acabam espantando certa
parte da audiência, cuja leitura é a de um “filme cabeça”, sem possibilidade de
aproveitamento.
Encerrando o seminário, Barbara enfatiza que o processo de exibição de um filme pode ser
caótico e cheio de adrenalina. A “cine-semana” começa na quinta, com novas estreias
entrando em cartaz nos cinemas, e se encerra na segunda, quando se obtém uma visão mais
clara da renda que o filme adquiriu nas salas de cinema. Isso determina se é válida a sua
manutenção, configurando uma queda de braço semanal onde os mais mais apaixonados
põem a determinação à prova.
Biografia
Fabrício Laghetto é graduado em Cinema na FAAP, onde realizou um curta-metragem como
diretor e roteirista, dois curtas como fotógrafo e cinco curtas como montador. Trabalhou
como assistente de pós-produção na Clube Filmes e atualmente trabalha como assistente de
edição na Adamo Films.
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A cobertura do 29º Festival Internacional de Documentário É Tudo Verdade faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.
Equipe Jovens Críticos Mnemocine:
Coordenação e Idealização: Flávio Brito
Produção e Edição: Bruno Dias
Edição: Davi Krasilchik, Luca Scupino, Fernando Oikawa e Gabriela Saragosa
Edição Adjunta e Assistente de Produção: Davi Krasilchik e Rayane Lima
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