×

Cida tem Duas Sílabas (2023, Giovanna Castellari) | 13ª Mostra Ecofalante de Cinema

Por Giovanna de Abreu Felix

Não temos total controle sobre nossas vidas, pois o meio externo em que vivemos e seus fatores que nos moldam como típicos seres humanos são decisivos para a liberdade. O saber ou o não saber das coisas está diretamente ligado a essa ideia, já que só seremos capazes de conhecer aquilo que nos foi exposto por esse mesmo meio externo.

Nessa perspectiva, o curta-metragem Cida tem duas sílabas (de Giovanna Castellari 2023), vencedor do prêmio de público na Mostra Ecofalante, aborda com uma simplicidade bem executada a maneira  como o meio em que se vive viola os direitos dos sujeitos e, consequentemente, infringe o controle destes sobre suas próprias vidas. 

No filme em questão, acompanhamos a história de Cida, uma senhora que trabalha como costureira e ajuda nos cuidados de sua neta. Logo no início, percebemos que a protagonista tem certa dificuldade para ler, aspecto abordado com sutileza pela direção e um importante fio condutor para a narrativa, que gira em torno do fato de que Cida precisa ficar até mais tarde no trabalho, a mando de um chefe que claramente abusa de seu analfabetismo.

Cida tem a ajuda de uma pessoa inesperada, que cria um vínculo a favor de  sua alfabetização, e é com esse agente da narrativa que a protagonista adquire voz para poder bater de frente com aquele que abusa de seu poder perante os mais “fracos”. É assim que ela abdica de um emprego cruel e que a fazia refém de um sistema de aproveitamento de vítimas necessitadas, que perdem o  controle sobre suas próprias escolhas.

Essa narrativa deixa clara a relação entre a protagonista e seu meio externo: ela só pode escolher o que é melhor para si mesma quando descobre que o trabalho que está sendo submetida não é certo, mas até então ela só aceitava o que a designavam, acreditando que aquilo era o que ela deveria fazer. Cida fez escolhas, mas ela não tinha controle sobre elas, uma vez que não tinha total conhecimento das escolhas que estava tomando. 

Essa narrativa mostra que o conhecimento pode ser, sim, a chave de grande importância na vida até dos que menos têm, mesmo que muitas vezes esse conhecimento venha tarde demais — como é o caso de Cida e suas colegas de trabalho, que escolhem não ter voz, pois necessitam de cada centavo que lhes é pago.

Dessa forma, Cida tem duas sílabas consegue, com seu intimismo e empatia, conduzir uma trama repleta de nuances e reflexões sobre a realidade que cerca a vida de diversas mulheres como Cida.

A sessão do dia 12/08, na qual Cida foi exibido, teve em conjunto a mostra de mais quatro curtas com abordagens documentais, mas que em suas narrativas abordam questões semelhantes às do filme principal. Todos, de alguma maneira, apresentam a relação entre o ser humano e seu meio externo, cada um com seu objetivo de apresentar ao público realidades diversas.

Biografia

Giovanna de Abreu Felix é estudante de cinema na FAM, onde roteirizou e produziu um curta-metragem. Suas principais áreas de interesse são a pesquisa, roteiro e direção cinematográfica, além de ter um gosto para área da crítica audiovisual, onde acredita ter uma grande importância para a colaboração para o pensamento do fazer cinema.

Coordenação e Idealização: Flávio Brito

Produção e Edição: Bruno Dias

Edição: Davi Krasilchik, Luca Scupino e Gabriela Saragosa

Edição Adjunta e Assistente de Produção: Davi Krasilchik e Caio Cavalcanti

Share this content:

Publicar comentário