Por André Quental Sanchez
No dia 15 de fevereiro de 1924, nascia Robert Drew: um homem que falsificou sua idade para conseguir pilotar aviões durante a 2º Guerra Mundial, trabalhou na revista Life, e um homem que estava insatisfeito com os rumos que o gênero documental tomava na virada entre as décadas de 50 para 60. Ao lado de diversos profissionais, se tornaria um dos responsáveis pela estruturação do “cinema direto”.
Esse conceito, apelidado de movimento “mosca na parede”, influencia documentaristas até hoje. Ele trouxe mudanças técnicas como o som sincronizado à imagem, o uso de equipamentos mais leves para facilitar a captura e movimentação da câmera, e uma aproximação maior do objeto desejado, entre outras propostas.
O primeiro filme em que Drew e sua equipe exploram este movimento é Primárias (1960, Robert Drew), produção que acompanha a corrida de John F. Kennedy e Hubert Humphrey nas Eleições Primárias para a presidência dos EUA. Acompanhamos o retrato humano que Drew faz de seu objeto, ainda que não abandone uma certa divindade no retrato do candidato.
Antes da sessão, Amir Labaki, fundador e diretor do festival É Tudo Verdade, definiu Robert Drew como um homem à frente de seu tempo. Na medida em que assistimos o documentário percebemos as relações entre este pronunciamento de Labaki e o próprio personagem de Kennedy, refletindo sobre a animação do próprio Drew ao produzir o filme.
Logo no início, acompanhamos Kennedy entrando em um teatro para falar aos seus eleitores. A câmera e a equipe seguem o candidato de um modo mais próximo que os documentários clássicos da época, trazendo momentos de humor e representações mais humanas dos personagens. A produção deixou Kennedy tão satisfeito que Robert Drew foi pessoalmente convidado para fazer outros filmes, ainda que o seu maior sucesso tenha sido de 1964.
Faces de Novembro é um curta que começa e termina com o barulho de tiros. Em uma filmagem do enterro de John Kennedy, acompanhamos personagens anteriormente vistos em Primárias. Diferente do longa que acaba em seu auge, com sorrisos e a esperança trazida com o hino da campanha de Kennedy nos créditos finais, o curta é marcado por uma tristeza constante.
Robert Drew filma a reação de diversas pessoas que foram se despedir do ex-presidente, fossem eles negros, brancos, homens, mulheres, todos apresentando o mesmo olhar triste que permeia o país da época. O sorriso de Jackie, algo tão presente no projeto anterior, não existe mais, a casa branca está vazia e os EUA estão de luto. Se os tiros iniciais representam o assassinato, os tiros finais representam a saudação de respeito para um grande homem.
Biografia
André Quental Sanchez é graduado em cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde roteirizou e dirigiu um curta-metragem. Tem muito interesse na área do som, crítica e roteiro e gosto pelo campo cinematográfico desde que se enxerga como gente. Atualmente está fazendo pós-graduação em roteiro no Senac Lapa Scipião e pretende seguir vida acadêmica.
_
A cobertura do 29º Festival Internacional de Documentário É Tudo Verdade faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.
Equipe Jovens Críticos Mnemocine:
Coordenação e Idealização: Flávio Brito
Produção e Edição: Bruno Dias
Edição: Davi Krasilchik, Luca Scupino, Fernando Oikawa e Gabriela Saragosa
Edição Adjunta e Assistente de Produção: Davi Krasilchik e Rayane Lima
Share this content:
Publicar comentário