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Meu Nome é Alfred Hitchcock (2022, Mark Cousins) |  É Tudo Verdade 2024

Por André Quental Sanchez

No melhor estilo Memórias Póstumas de Brás Cubas (1880) de Machado de Assis, o diretor Mark Cousins, auxiliado pelo ator e impressionista Alistair McGowan, faz um documentário permitindo que o próprio Hitchcock analise sua obra do além túmulo. 

A produção – que integra a retrospectiva feita pelo festival à Cousins – funciona como introdução e ao mesmo tempo como estudo aprimorado da obra do lendário cineasta Alfred Hitchcock. Durante as suas duas horas, somos guiados por uma narração irônica – que imagina como um Hitchcock do século XXI olharia para o seu passado, assistimos trechos de sua filmografia e vemos cenas contendo grandes atores como Cary Grant, Kim Novak e Grace Kelly. Somos sempre levados a refletir sobre o porquê de suas obras serem tão eternas.

Apesar disto, o que começa inovador se torna cansativo, seja pelo uso excessivo de diversos filmes do diretor, desde os primeiros como O Jardim dos Prazeres (1925), até os mais conhecidos como Os Pássaros (1963). A própria voz de McGowan/Hitchcock vira um pastiche de si mesma, ironizada pela performance ou mesmo pela glorificação trazida por Cousins.

Hitchcock é conhecido por ser um dos maiores cineastas que já existiu, mas assim como Brás Cubas, refletimos sobre o quão confiável é este narrador em primeira pessoa. Em nenhum momento Alfred sai do papel divino, e assim é gerado um certo contraste com a personalidade contraditória do diretor. São populares não só os relatos sobre o comportamento abusivo que ele tinha para com atrizes como Tippi Hedren, como também a sua famosa frase: “atores devem ser tratados como gado”, ou outras de suas problemáticas. Fatos como esses nos levam a questionar e levantar a sobrancelha em certas cenas.

Ainda assim, o filme traz reflexões inovadoras sobre a arte do cineasta e a arte de se fazer cinema, focando na relação entre a plateia e o filme. O modo como nos identificamos com a jornada de determinados personagens, e as táticas narrativas usadas para manipular a audiência, são alguns dos objetivos sendo aqui analisados. Seja pela mão do próprio  Hitchcock ou pela mão de Cousins, estamos diante de um manifesto que demonstra sempre o seu amor incondicional pelo cineasta britânico.

Biografia

André Quental Sanchez é graduado em cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde roteirizou e dirigiu um curta-metragem. Tem muito interesse na área do som, crítica e roteiro e gosto pelo campo cinematográfico desde que se enxerga como gente. Atualmente está fazendo pós-graduação em roteiro no Senac Lapa Scipião e pretende seguir vida acadêmica.

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A cobertura do 29º Festival Internacional de Documentário É Tudo Verdade faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.

Equipe Jovens Críticos Mnemocine: 

Coordenação e Idealização: Flávio Brito

Produção e Edição: Bruno Dias

Edição: Davi Krasilchik, Luca Scupino, Fernando Oikawa e Gabriela Saragosa

Edição Adjunta e Assistente de Produção: Davi Krasilchik e Rayane Lima

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