Por: André Quental Sanchez
Vencedor do Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Berlim, 20.000 espécies de Abelhas conta a história de uma criança em conflito com sua identidade sexual, durante uma viagem de férias com a família. A protagonista não se encaixa em seu nome de batismo Aitor, tampouco no apelido de Cocó e nem mesmo no papel que a colocam dentro de uma família extremamente religiosa.
A atriz Sofía Otero, que merecidamente ganhou o prêmio aos nove anos de idade, encarna a jornada de descobrimento de Aitor para Lúcia, trabalhada com extrema sutileza pela diretora, Estibaliz Ureesola Solaguren. O filme é permeado por simbolismos que vão desde a religião, ao mito das sereias e até as abelhas, que apresentam por si só uma grande importância para o filme.
Apesar de ser uma produção majoritariamente feminina – seja na frente das câmeras ou tratando da equipe de produção – o irmão de Lúcia, Eneko, merece destaque por ser um dos primeiros a realmente aceitar a mudança. Porém, uma ressalva no filme diz respeito à ausência da irmã mais velha de Lúcia, Nerea, que poderia servir como um guia e objetivo para a protagonista, mas acaba negligenciada em grande parte da trama.
Na medida que a obra trata de um tema que pode ser considerado “pesado” – tendo lançado um debate sobre menores transexuais, após seu lançamento no festival Berlinale, e a aprovação de uma lei espanhola que permite que jovens de 16 anos realizem livremente a transição de gênero – o filme é feito com muita delicadeza. Seus diálogos são especialmente marcantes e profundos, discutindo morte e ressurreição de uma maneira que surpreende o público.
O filme não retrata somente uma jornada de libertação, na medida em que a coragem de Lúcia inspira outras mulheres de sua família a entrarem em contato com sua própria feminilidade: seja sua mãe, Ane, que está passando por um processo de divórcio e enfrenta dúvidas em relação à sua carreira como artista; ou a tia, que tenta compreender as vontades da sobrinha da melhor forma possível.
Estibaliz dispõe de uma fotografia intimista, com planos bastante próximos de sua protagonista, alternando na montagem momentos mais leves, como Lúcia brincando na piscina com o irmão, antes de instantes densos que prendem a tensão. Deste modo, sempre nos aproximamos dos personagens, principalmente de Lúcia, permitindo um adentramento bastante necessário em seu mundo.
20.000 espécies de abelhas, dirigido por Estibaliz Urresola Solaguren e estrelando Sofía Otero e Patricia López Arnaiz, foi visto no dia 06 de Outubro de 2023 em uma sessão lotada do Festival do Rio. Ganhador do Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Berlim, o filme discute com sutileza e coragem o assunto da identidade sexual infantil.
Biografia
André Quental Sanchez é graduado em cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde roteirizou e dirigiu um curta-metragem. Tem muito interesse na área do som, crítica e roteiro, tendo interesse e gosto pelo campo cinematográfico desde que se enxerga como gente. Pretende seguir vida acadêmica no futuro.
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A cobertura do 25º Festival Internacional do Rio faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.
Equipe Jovens Críticos Mnemocine:
Coordenação e Idealização: Flávio Brito
Produção e Edição: Bruno Dias
Edição: Davi Krasilchik e Luca Scupino
Edição Adjunta e Assistente de Produção: Rayane Lima
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