Por André Quental Sanchez
Retratando a história do celular que as pessoas tinham antes do Iphone, Blackberry apresenta quase 20 anos de uma equipe responsável pela invenção do smartphone homônimo, que em seu auge controlou 45% das ações de celulares, e hoje controla 0%. Começamos o filme tendo a plena consciência do fracasso que eles teriam ao final, e esta onisciência por parte do público torna tudo mais interessante.
O longa conta a história de Mike Lazaradis, um gênio da informática que largou a faculdade, e sua relação com o “tubarão” da indústria Jim Balsillie, interpretado por Glenn Howerton em um papel aterrorizador e extremamente cômico. Ambos os personagens dividem o protagonismo, apesar de Balsillie ser claramente tratado como antagonista. Os dois apresentam diversas posses colocadas em jogo pelo bem do celular, sejam elas físicas, como hipotecas, ou próprias crenças que vão lentamente cedendo.
O diretor Matthew Johnson, também intérprete de Doug Fregin no filme, constrói um ritmo frenético que não nos faz perceber o tempo passar. Por meio de câmeras de mão, ele permite quase um voyeurismo no mundo dos “nerds” que trabalharam no Blackberry. Somos colocados em um nível de profundidade com as situações e os personagens que a câmera estática jamais conseguiria transmitir.
O elenco foi cuidadosamente escolhido, permitindo que seus personagens extremamente caricatos se destacassem: o cabelo e o receio de Mike; o nervosismo e as expressões de Jim; a calma e a indiferença de Doug. Mesmo o grande Michael Ironside, fazendo um pequeno mas marcante papel, também auxilia no processo de construção.
Em um momento em que muitos produtores independentes optam por se inspirar em jogos e itens icônicos dos anos 80/90 – caso de Pinball: The Man Who Saved the Game (2022) de Austin Bragg, Air (2023) de Ben Affleck e Tetris (2023) de Jon S Baird – dando seu próprio olhar da época em contraste com a atualidade, Blackberry faz uso de uma estética propositalmente amadora, utilizando imagens de arquivos e uma construção estilística que remete à abordagem documental do cinema direto, por conta de sua proximidade com os envolvidos.
Blackberry constrói em seu acelerado ritmo uma grande montanha-russa de acontecimentos. Torcemos pelos personagens, sofremos com eles e às vezes rimos de seu sofrimento. Mais para o final do filme, acompanhamos os personagens assistindo a famosa apresentação de Steve Jobs sobre o celular que os destruiria, percebemos a agonia da equipe, porém, não podemos deixar de rir ao percebermos que a única solução após o surgimento do Iphone era fechar as portas da empresa.
Blackberry, dirigido por Matthew Johnson e estrelando Jay Baruchel, Glenn Howerton e Matthew Johnson, foi visto no dia 08 de Outubro de 2023 em uma sessão do Festival do Rio. O filme estreou em Março no exterior e estreia quinta-feira, dia 12/10, em cinemas de todo o Brasil.
Biografia
André Quental Sanchez é graduado em cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde roteirizou e dirigiu um curta-metragem. Tem muito interesse na área do som, crítica e roteiro, tendo interesse e gosto pelo campo cinematográfico desde que se enxerga como gente. Pretende seguir vida acadêmica no futuro.
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A cobertura do 25º Festival Internacional do Rio faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.
Equipe Jovens Críticos Mnemocine:
Coordenação e Idealização: Flávio Brito
Produção e Edição: Bruno Dias
Edição: Davi Krasilchik e Luca Scupino
Edição Adjunta e Assistente de Produção: Rayane Lima
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